OS PAIS APÓSTOLICOS

 
 


O nome de “pais apóstolicos” foi dado no século XVIII, entendendo que estes escritores da igreja primitiva haviam vivido e escrito no I século da era cristã. Acontece que estudos posteriores mostraram que grande número destes escritos são do II século. A organização deste período é relacionado com o concílio de Nicéia, são: antenicenos, os nicenos e os pós-nicenos. Os ante-nicenos são divididos por sua vez entre apostólicos, apologéticos, polemicistas e científicos. O período dourado da patrística foi no período pós-niceno.

A importância desta literatura podem ser vista em 4 considerações: 

Primeiro, sua inferioridade aos livros do NT confirma nossa crença na inspiração e conservação do NT. Em segundo lugar, é nossa única fonte quanto à maneira em que o cristianismo apostólico foi transformado na doutrina, piedade, culto e instituições do IV século. Em terceiro lugar, é também nossa única fonte quanto ao uso e interpretação do NT pelas igrejas da época. Em último lugar, é um verdadeiro espelho das formas diversificadas tomadas pelo cristianismo ao enfrentar-se com o mundo pagão e judeu.

O mundo evangélico na sua grande maioria não oferece tempo nem atenção ao estudo e leitura dos textos dos "pais apostólicos", 


O período dos pais apostólicos (fins do I e início do II séculos) foi de um crescimento obscuro e quieto. Havia poucos homens “de letras” na Igreja para defende-la contra os filósofos e políticos. Este período pode ser chamado de “edificatório”, uma vez que não há sistematização da fé cristã e não se mostra em contato com a filosofia pagã. Reverenciaram o AT como a Bíblia da Igreja, mas também citam o NT como sendo importante para a substância de doutrina e acima de seus próprios escritos

1.O Conteúdo dos Escritos dos Pais Apostólicos.

ICoríntios. O seu autor foi Clemente que escreveu de Roma no ano 96. Foi possivelmente o mesmo Clemente de Fl:4:3. Sua carta mostra como o evangelho se alastrou no palácio imperial. Aparentemente Roma não tinha bispo nesta época. o motivo da carta nos faz lembra das cartas de Paulo aos coríntios. Embora não as cita, o autor se mostra familiar com elas. Haviam disputas e um espírito de cisma entre os coríntios. Os jovens tiveram ciúme dos velhos. Clemente procura trazer de volta a harmonia à Igreja usando o argumento da criação, da providência, da preexistência do Salvador. O conceito de “sucessão apostólica” aparece em Clemente, ele escreve: “os apóstolos nomearam os bispos e mais tarde providenciaram uma continuação que, se estes fossem adormecer, outros homens aprovados tomariam o seu lugar”


O didaquê. É datado entre 70 e 150 . Ele consta de 3 partes: o documento dos 2 caminhos (1-6) que se encontra também na epístola de Barnabé; instruções litúrgicas (7-10) em que fala do batismo, a distinção entre cristãos e hipócritas e a céia (seja refeição ou comunhão); e uma espécie de manual de disciplina (11-15). Depois uma conclusão (16). O didaquê revela um período de transição em termos hierárquicos. Distingue os bispos de diáconos permanentes e dos profetas que são carismáticos e itinerantes.


Inácio de Antioquia. Escreveu sete cartas na sua ida ao martírio em Roma. Elas nos mostram a realidade das Igrejas na Ásia Menor em princípios do II século. A carta aos romanos indica que havia irmão lá que se prepararam para libertá-lo do martírio. Pede que não façam isto (Rm3:2-4:3). Parece que nesta época somente Roma tinha bispo. Não se pode esperar numa hora de tantas pressões que Inácio desse um quadro geral de seu pensamento. Duas ênfases entretanto aparecem:  combate os que negam a vida física de Jesus e combate uns judaizantes que fazem de Jesus um simples rabi dentro do judaísmo. Quanto a interpretação da obra de Jesus, Inácio se aproxima mais de João (revelador) do que Paulo (libertador).


A carta de Policarpo de Esmirna aos Filipenses. Policarpo discípulo de João foi martirizado em 156. Embora não tão profundo como João ou Inácio, Policarpo destacou a humanidade de Cristo no centro de sua doutrina da salvação. 8:1; 9:2


A Epístola de Barnabé. Ela divide-se em 2 partes: a primeira (1-17) é de caráter doutrinário; a segunda (18-22) caráter prático. A parte doutrinária é uma interpretação alegórica do AT. Usa a alegoria para salvaguardar o AT para a igreja, despojando-o assim de mandamentos que chocavam os cristãos. Assim não comer carne de porco significaria não se ajuntar a homens porcos, 10:3. Mesmo assim, não coloca duvidas a historicidade das narrativas históricas do AT. Aceita-se como tipos a serem cumpridos em Jesus. A parte prática repete o documento dos 2 caminhos que se encontram no princípio do didaquê. É provável que os 2 usaram um III documento que não chegou até nós.


O pastor de Hermas. Escrito na primeira metade do II século, é obra de caráter apocalíptico, cheia divisões e símbolos, bem como de suas interpretações. ‘E o documento mais comprido desta coleção e, como Icoríntios, foi aceita como Escritura durante algum tempo na Igreja primitiva. Os dois foram incluídos como apêndices nos MSS A. Hermas tenta responder ao problema do que vai acontecer aqueles que negaram a fé nas perseguições. A este problema dedica 5 visões, 2 mandamentos e 10 parábolas. O centro desta parte é a III visão, a da Torre. Para Hermas o cristianismo parece ser, antes de mais nada, uma série de mandamentos que devemos seguir. A obra é um estudo ético (prático) de como deve ser a vida cristã.


Explicações das Sentenças do Senhor. Esta é uma obra de Papias que ocupava 5 volumes. Nos resta apenas fragmentos em outros autores, tais como Eusêbio e Irineu.


A Epístola a Diogneto.  O seu autor desconhecido. Embora alguns  historiadores tratam esta epístola nos pais apologéticos e outros neste período. O escritor apresenta uma defesa racional do cristianismo ao demonstrar a loucura da idolatria (1-2), a inadequação do judaismo (3-4), e a superioridade do cristianismo por suas crenças, seus resultados e benefícios que oferece ao convertido (5-12). Ele compara o papel dos cristãos no mundo ao papel da alma no corpo numa série interessante de comparações (6).


Ao se estudarem estes escritos dos pais apostólicos, já começam aparecer sinais das grandes “escolas”em que o cristianismo será desenvolvido posteriormente. 

Temos a escola da Ásia Menor e da Síria que tem seus representantes em João, Inácio, Policarpo, Papias. O cristianismo aqui não é acima de tudo uma doutrina moral, pelo contrário, é a união com o Salvador mediante o qual se alcança a imortalidade. Assim que a realidade histórica de este Cristo é imprescindível à fé. Por outra parte vem sobre esta escola a influência gnóstica, dos mistérios e do judaísmo essenico. 

A escola de Roma e mui distinta. Temos representantes como Clemente e Hermas. O cristianismo tende para o lado ético e prático que pode levar ao moralismo. Sofre a influência do estoicismo e do espírito pragmático romano. 

 Por último temos a escola alexandrina que se desenvolveu sob a  influência neo-platônica e deu ênfase à interpretação alegórica das Escrituras. Sob esta escola vem a influência particular do helenismo judaico. Na Epístola de Barnabé temos o primeiro escrito desta escola.